Os brasileiros que podem se refugiam na
Flórida
No Estado americano, os imóveis são mais baratos, quase não há assaltos,
as praias são limpas e as regras de trânsito são respeitadas
Miami é o refúgio no exterior
preferido de brasileiros cansados de esperar que o Brasil dê certo. Nas últimas
décadas, a cidade americana já havia se consolidado como destino dos exilados
da ditadura cubana, da classe média venezuelana, esmagada pelo chavismo, e de
argentinos em busca de um canto para esconder seus dólares. Atualmente, porém,
nenhuma nacionalidade se mostra mais interessada em se refugiar, temporária ou
permanentemente, em Miami. Os brasileiros são os estrangeiros que mais
pesquisam as propriedades à venda no site da associação de imobiliárias da
cidade e só perdem para os canadenses como os maiores compradores de imóveis em
todo o Estado da Flórida.
Há cinco anos, eles nem sequer
figuravam na lista dos principais clientes. Ao contrário dos canadenses, que
preferem as residências mais baratas, os brasileiros dominam o segmento a
partir de 500 000 dólares. Segundo uma estimativa da imobiliária Piquet Realty,
13% de todas as vendas na região de Miami em 2013 foram para brasileiros.
Outras estatísticas falam em 20%. O número pode ser ainda maior, pois boa parte
das casas e dos apartamentos é comprada em nome de empresas (que nos Estados
Unidos pagam menos impostos sobre propriedade), o que torna impossível
determinar a nacionalidade dos clientes.
O que faz um cidadão de um país
com 7 400 quilômetros de litoral, como é o Brasil, comprar uma residência de
veraneio a oito horas de avião e que, se não puder se mudar para lá em
definitivo, só conseguirá desfrutar poucas vezes ao ano? A motivação, quase
sempre, é simular a vida num Brasil onde as coisas funcionam. Em Miami, podem-se
fazer compras em português e há brasileiros em toda parte, mas ninguém corre o
risco de ser assaltado a mão armada no sinal. A cidade é um exemplo de
civilidade. Quando um carro tem o pneu furado, a prefeitura pode ser
responsabilizada pelo buraco na rua que o causou. Nas areias de Miami Beach não
há lixo nem vendedores ambulantes, só bandos de gaivotas, postos de salva-vidas
e banhistas. Pode-se deixar tranquilamente os pertences embaixo do guarda-sol
enquanto se mergulha ou sacar a câmera fotográfica para registrar a paisagem.
Nas mesas de bar ao ar livre da Lincoln Road, um calçadão movimentado, os
clientes conversam sem precisar esconder relógios, joias e celulares.
Um apartamento de 130 metros
quadrados, três quartos e uma vaga de garagem num dos trechos mais concorridos
de Miami Beach custa o equivalente a 1 milhão de reais. Um similar na Riviera
de São Lourenço, em Bertioga, no Estado de São Paulo, vale 1,6 milhão de reais.
Os juros de financiamentos por lá são mais baixos. Enquanto no Brasil giram em
torno de 10% ao ano, nos Estados Unidos a taxa varia de 4,5% a 5%. Para quem já
sofreu o longo processo de comprar uma casa no Brasil, Miami é um paraíso. Os
trâmites nos Estados Unidos são bem mais simples. O cliente, para comprovar
renda, só precisa apresentar uma carta do contador que faz suas declarações de
imposto e outra do gerente de um banco qualquer no Brasil, além de referências
comerciais para mostrar que é um bom pagador. Hoje, 17% dos brasileiros que
adquirem imóveis fazem financiamento, 82% deles por meio de bancos americanos,
segundo o Condo Vultures, consultoria do setor imobiliário. O assédio de
corretores desesperados não acontece. Nos Estados Unidos, os endereços à venda
estão cadastrados em uma mesma base de dados, à qual todas as imobiliárias têm
acesso. Fecha o negócio aquela que oferecer o melhor atendimento ao comprador.
Fonte: Veja.com
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